O novo Vestibular

O Ministério da Educação deflagrou na última semana uma verdadeira revolução no processo de ingresso no Ensino Superior ao apresentar aos reitores das universidades federais a proposta de adoção do Sistema de Seleção Unificado – na prática, a oficialização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como vestibular. A iniciativa, que já vem sendo aplicada experimentalmente em algumas instituições nacionais, altera radicalmente uma tradição de quase um século, iniciada em 1911, quando as universidades passaram a adotar o exame de seleção para preencher as vagas disponíveis. Com esta medida, o Brasil tende a equiparar-se a nações mais evoluídas, como o Japão, os Estados Unidos e vários países europeus, que se valem da avaliação unificada para selecionar seus universitários.

Como toda revolução, esta também gera controvérsias. A principal delas decorre do temor dos administradores e de especialistas em substituir provas adequadas à realidade de cada região pelo teste-padrão do MEC. Mas esta questão pode ser resolvida facilmente, já que as universidades mantêm a autonomia para realizar uma prova complementar quando julgarem necessário. Além disso, nada impede que contemplem a diversidade regional nas disciplinas de seus cursos posteriormente.

O que importa é que o novo sistema de ingresso no Ensino Superior mantenha o mérito como valor maior, assim como ocorre nos vestibulares de hoje, corrigindo as distorções atuais. Em termos conceituais, o Enem aperfeiçoado se propõe a priorizar o raciocínio, a interpretação e a capacidade de solução de problemas em áreas básicas do conhecimento, deixando em segundo plano a chamada decoreba. A proposta é testar mais a capacidade do aluno para solucionar problemas da vida real do que o conhecimento acumulado ou os macetes de cursinhos, que privilegiam a associação de ideias em detrimento da compreensão. Se este objetivo for atingido, o Ensino Superior já ganhará em qualidade.

Outro efeito colateral do novo sistema deve ser a qualificação do Ensino Médio, pois o ingresso na universidade terá como base os conteúdos oferecidos pelas escolas, que também estarão sendo avaliadas no Enem. Já os estudantes serão beneficiados pela possibilidade de se candidatar a cinco vagas em diferentes universidades ao mesmo tempo. Como não se trata de uma imposição, as universidades terão tempo para se adaptar ao novo sistema, podendo inclusive, fazer uso de sua autonomia para adotá-lo parcialmente e até para manter o vestibular nos moldes atuais.

O importante é que os processos de seleção possibilitem aos estudantes brasileiros habilitados o acesso a um ensino de terceiro grau que os prepare efetivamente para a vida profissional e para o crescimento individual. E que o Brasil deixe de figurar na retaguarda do conhecimento cada vez que seus universitários são submetidos a provas internacionais.


Fonte: Zero Hora 12/04/09
 

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